quinta-feira, 16 de março de 2017






Conversando com os botões



Parece fugidio demais o momento
não desgasto e nem desgosto os dias
limpo as mãos desaguadas em suores
olho com profundeza a joaninha no jardim
delicada e bem vestida com suas bolinhas
pisa as pétalas como quem desliza em águas
o verde de ontem amarelou as bordas do pensar
cada folha branca merece ornamento de letras
tingia as folhas de grafite quando pequena
na época era verdadeira artista de sonhos
agora me fogem as palavras das cirandas
era orgulho rimar poeminhas e desenhar flores
não eram desenhos talvez resenhas do que veria
os louros ditavam modas eu desobedecia gritos
o silêncio é o grito mais belo que conheço
as vozes tagarelam comigo e derrubam os botões
como vão florescer as flores? a barriga descoberta
e o umbigo público. E os segredos conversados
as escondidas.
Tudo tem pouco de rebeldia...até o dia


sábado, 5 de novembro de 2016


Versos em fuga 



Verso rabiscado
sujo e desprezado
foi  o fim das rimas,
como a vida rascunhada
a cada dia, em linhas tortas
sofrego momento de respirar
a falta de palavras
e ver a vida sem nexo
embaçada na estrada pontilhada
por lágrimas
musica desalmada 
o canto do grilo noturno
o zumzumzum da mosca  no vidro
enquanto a noite declina
zumbido no ouvido
apito e apito, alto lá!
deixa-me pensar
rabisco migalhas e gargalho
despautérios semânticos
Baudelaire poeta boêmio
bebia palavras etílicas
e as destilava em folhas
que embriagavam leitores
e o barco levou os sonhos
de Cecilia eu os acordei
em Noturnos, bela prosa
quanto custa folgar os versos?
os deixei à vontade
quiça não voltam mais
ainda estão sujos, mal pensados



quinta-feira, 27 de outubro de 2016








Pena

pena não ter ideia
que valha a pena
deitar em versos
amenas rimas
raras e caras
pena sentir apenas
a sobra das palavras
tendo aparas de poesias
peças de um retalho
pena não ter
 as linhas semânticas
 que emendem
os pedaços desconexos
de um morro uivante
pena não ter a maestria
de compor a vida
em pauta limpa
traçando nova poesia  

quinta-feira, 28 de julho de 2016


...
verdes palavras
a esperança, uma fita aos cabelos
os olhos presos em borboletas
voam por entre amores
as flores desabrocham
se amostram se entregam
pulverizam a alma
dos prazeres dos jardins
e a vida voa... 


Imaturos


as mãos marcadas pelo trabalho
a tez escurecida pelo sol
e o pensamento que ficou perdido
em uma infância distante
a força que conduziu a produção
o arar o campo e lançar a semente
o cuidar dos animais o cuidar da gente
e os dias de lida foram tantos
as folhas do tempo retiradas uma a uma
é já outra primavera de muitas esquecidas
o corpo maduro, pronto.
a mente de uma criança birrenta
que insiste em se acabar
na pequena lavoura, na pequena vida

Murmúrios


inquietos rios
se movem em mim
ouço a melancólica
e vazia música 
de uma solidão,
que se aproxima
a me oferecer saudades...
ausências se desfolham
em minha esperança
lembro dos que se foram
e aquele caminhar calmo
em ruas desertas de vazios
as cores se mesclando
ao pálido momento
e os rios se juntam
ondulando pensamentos
e não cabe em mim
esta canção
e os rios transbordam
e minha face se lava
eclosão de murmúrios
de inquietos rios   

segunda-feira, 25 de abril de 2016


Matar a saudade


Viajei alguns quilômetros
 com o intuito de matar a saudade
 Levei muitos abraços.
 Preparei porções de beijos.
 Revesti meu olhar de minucias.
Queria gravar em mim seus detalhes
 As mãos hidratei com amor.
 O coração refiz de carinho.
 As palavras foram domadas,
 deixei o silencio comandar.
 Meus lábios preenchi de sorriso.
 No encontro, presentes distribuídos.
 E, houve tanto carinho e chamego.
 O tempo preenchido de ternura.
 Abasteci o espirito de você.
  Na hora da despedida,
 deixei lágrimas verterem.
 Voltei ao meu lar sentindo leveza,
 enquanto a estrada passava.
 Foi na chegada ao abrir a porta
 que compreendi,
  ao invés de matar a saudade
 a fiz reviver. Compreendi então:
 que saudade não morre.
Saudade se alimenta de amor
 e está sempre acesa
 feito uma chama eterna.