sexta-feira, 12 de maio de 2017

Os botões da calça


era mais um dia de lida
dolores ia e vinha na casa
esfregava, varria, limpava
renovava o chão com água
levantava antes a poeira
a aranha na arte de tecer
esticava suas longas pernas
e saia apressada para salvar a vida
pois a teia já se enovelava na vassoura
feito doce de algodão doce
dolores cantava palavras sem padrão
junta pedaços de canção
cozinha, lava, passa a ferro
a roupa do patrão
não engoma mais, pensa nisso
o quanto é bom
os dias voam em peças
destelhadas de memória
são livres os pensamentos
e Dolores vai na lida
empoando a vida




Simples



quando despia o dia
era para vê-lo por inteiro
sentir a intimidade
de pertencer a vida
desabrochar sorrisos
para a alegria dos olhos
alheios
todos os dias expor
o que tem nas prateleiras
do coração
espreguiçar possíveis pragas
dolentes
espiar a tela em branco
e começar a pintar
o cenário para atuar
tudo isso fazia
enquanto saboreava o café