sábado, 5 de novembro de 2016


Versos em fuga 



Verso rabiscado
sujo e desprezado
foi  o fim das rimas,
como a vida rascunhada
a cada dia, em linhas tortas
sofrego momento de respirar
a falta de palavras
e ver a vida sem nexo
embaçada na estrada pontilhada
por lágrimas
musica desalmada 
o canto do grilo noturno
o zumzumzum da mosca  no vidro
enquanto a noite declina
zumbido no ouvido
apito e apito, alto lá!
deixa-me pensar
rabisco migalhas e gargalho
despautérios semânticos
Baudelaire poeta boêmio
bebia palavras etílicas
e as destilava em folhas
que embriagavam leitores
e o barco levou os sonhos
de Cecilia eu os acordei
em Noturnos, bela prosa
quanto custa folgar os versos?
os deixei à vontade
quiça não voltam mais
ainda estão sujos, mal pensados



quinta-feira, 27 de outubro de 2016








Pena

pena não ter ideia
que valha a pena
deitar em versos
amenas rimas
raras e caras
pena sentir apenas
a sobra das palavras
tendo aparas de poesias
peças de um retalho
pena não ter
 as linhas semânticas
 que emendem
os pedaços desconexos
de um morro uivante
pena não ter a maestria
de compor a vida
em pauta limpa
traçando nova poesia  

quinta-feira, 28 de julho de 2016


...
verdes palavras
a esperança, uma fita aos cabelos
os olhos presos em borboletas
voam por entre amores
as flores desabrocham
se amostram se entregam
pulverizam a alma
dos prazeres dos jardins
e a vida voa... 


Imaturos


as mãos marcadas pelo trabalho
a tez escurecida pelo sol
e o pensamento que ficou perdido
em uma infância distante
a força que conduziu a produção
o arar o campo e lançar a semente
o cuidar dos animais o cuidar da gente
e os dias de lida foram tantos
as folhas do tempo retiradas uma a uma
é já outra primavera de muitas esquecidas
o corpo maduro, pronto.
a mente de uma criança birrenta
que insiste em se acabar
na pequena lavoura, na pequena vida

Murmúrios


inquietos rios
se movem em mim
ouço a melancólica
e vazia música 
de uma solidão,
que se aproxima
a me oferecer saudades...
ausências se desfolham
em minha esperança
lembro dos que se foram
e aquele caminhar calmo
em ruas desertas de vazios
as cores se mesclando
ao pálido momento
e os rios se juntam
ondulando pensamentos
e não cabe em mim
esta canção
e os rios transbordam
e minha face se lava
eclosão de murmúrios
de inquietos rios   

segunda-feira, 25 de abril de 2016


Matar a saudade


Viajei alguns quilômetros
 com o intuito de matar a saudade
 Levei muitos abraços.
 Preparei porções de beijos.
 Revesti meu olhar de minucias.
Queria gravar em mim seus detalhes
 As mãos hidratei com amor.
 O coração refiz de carinho.
 As palavras foram domadas,
 deixei o silencio comandar.
 Meus lábios preenchi de sorriso.
 No encontro, presentes distribuídos.
 E, houve tanto carinho e chamego.
 O tempo preenchido de ternura.
 Abasteci o espirito de você.
  Na hora da despedida,
 deixei lágrimas verterem.
 Voltei ao meu lar sentindo leveza,
 enquanto a estrada passava.
 Foi na chegada ao abrir a porta
 que compreendi,
  ao invés de matar a saudade
 a fiz reviver. Compreendi então:
 que saudade não morre.
Saudade se alimenta de amor
 e está sempre acesa
 feito uma chama eterna.



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016






Lembranças...


criança pequena
ia brincar onde
jorrava água pura
vinda da serra, cristalina

cresci enquanto
os adultos
faziam eventos

invadiam a natureza
e a despiam dos verdes
expondo-a  ao sol

a cidade se apossou
da serra
desabrigou a mata

a fonte se perdeu
sem árvores
definhou, secou

agora não mais
as aves se alegram
a borboleta se foi

de fato encontrei
umas branquinhas,
perderam as cores

penso que o sol
as despintou
jazem agora sem abrigo

e, foram embora
as canções da natureza,
as buzinas martirizam

os ouvidos surdos
das árvores, às margens
do asfalto quente.

a água antes
pura e cristalina
descem tingidas,

da evolução humana,
são fétidas e tristes
aprendi pular poças

não há lua
se narcisando
na lama

e, sinto um aperto
e bastante lembro
da fonte...